terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O vale abandonado

Em rápida e despretensiosa viagem ao sertão do estado, resolvi passar por um dos locais turísticos mais visitados e/ou comentados da Paraíba: O Vale dos Dinossauros, localizado na bacia do Rio do Peixe no município de Sousa.

Estava ali um visitante cheio de expectativas porque ao longo dos anos foi ele também responsável, de certa forma, pela propagação e legitimação ufanista do local como referencia de preservação dos sítios arqueológicos e paleontológicos. Agora na condição não apenas de um turista momentâneo, mas acima de tudo, de um jornalista incondicional, esperei encontrar por lá aquele aconchegante e atraente local de preservação da memória histórico/cultural da região sertaneja, mas frustrando todas as minhas expectativas me deparei com um espaço quase completamente abandonado.

A imagem transnacionalizada e vendida para o mundo de um ambiente perfeito, ideal para o turismo rural, não estava mais lá se é que um dia esteve. O mundo real é bem diferente daquele espaço midiatizado. O concreto decepcionando o abstrato em função de um verdadeiro descaso por parte de órgãos públicos (Estaduais, Municipais e Federais) que inicialmente apostam no potencial turístico como saída para regiões atrasadas e depois a submetem ao esquecimento.

O Vale dos Dinossauros está entregue ao poderio devastador das traças e dos cupins. Eles corroem os quadros expostos, a madeira do teto, as bases de sustentação de painéis etc. Nas paredes, rachaduras; nos documentos expostos, mofo; do telhado evidenciado por um buraco feito no forro, sinais de infiltração. O vale está morrendo. Dia após dia o local é condenado ao mesmo fim dos animais pré-históricos.

É esta a primeira impressão que temos ao chegar ao Vale. Nem a placa de sinalização e identificação exporta na entrada escapou. Agora ela fica a um canto de parede dentro da sede do parque, já um telefone público (orelhão) que existia na entrada também não suportou a ação de vândalos: teve a fiação roubada e portando está inativo.

Andando pelas trilhas mais surpresas. As poucas réplicas dos animais pré-históricos que habitaram a região há cerca de cento e dez milhões de anos (período cretáceo) estão praticamente destruídas. Dos quatro exemplares existentes restam apenas dois. O “guardião” do parque, um sujeito de barba grande e grisalha chamado de Robson Marques ainda nos fez uma declaração preocupante, segundo ele pesquisadores a serviço de uma Universidade Paraibana estiveram lá e levaram uma rocha com amostras de pegadas de dinossauros. O "Velho do Rio" disse que não sabe pra que o objeto foi levado nem se o material arqueológico ainda vai ser trazido de volta.

Não gostaria de voltar ao Monumento Estadual do Vale dos Dinossauros e encontrar novamente tudo o que vi por lá. Compartilho esta preocupação em forma de desabafo por compreender que o turista e o turismo em si devem ser respeitados. A Paraíba tem nos últimos anos, através de seus gestores, implementado em seus programas de governo um discurso favorável ao turismo e isso precisa ser respeitado.

Jurani Clementino
Paraíba Online

2 comentários:

  1. Sorte teve o jornalista Jurani Clementino por não haver pisado sobre esterco de gado bovino quando se encaminhava para ver a principal trilha de pegadas.
    A mesma sorte não teve uma turista paulista que pisou no meio daquele monte escuro de “fertilizante natural” deixado bem no meio da trilha de acesso a principal passarela.
    - Que é isto, me perguntou à turista.
    - Esterco de gado, lhe respondi.
    - Esterco, o que é isso?
    - É merda de gado, respondeu outro turista mais adiante...
    É bom explicar bem isto aqui.
    À noite o gado de fazendas vizinhas costuma adentrar na área do parque e caminham por todas as partes.
    Por onde passam? Pelas cercas que estão em mal estado de conservação.

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  2. O QUE A HISTÓRIA NUNCA CONTOU
    No que pese o paleontólogo Giuseppe Leonardi haver lutado com todos os meios que estavam ao seu alcance para implantar projetos de infra-estrutura turística nos sítios Engenho Novo em São João do Rio do Peixe onde havia significativa concentração de pegadas de dinossauros saurópode e terópodes, inclusive elaborou o esboço do projeto e o entregou a prefeitura daquele município, o projeto não passou do esboço de G. Leonardi. Já quanto ao sitio Engenho Novo na atualidade a área está sendo ocupada com a construção de moradias sobre a laje com pegadas. Por lá restam se muito, umas quatro ou cinco pegadas para ser muito otimista.
    No sitio Passagem das Pedras – fazenda Ilha – foi diferente.
    Em 1996 foi assinado um convênio entre o Ministério do Meio Ambiente, Estado da Paraíba/Superintendência de Administração do Meio Ambiente e Prefeitura Municipal de Sousa (Convênio MMA/PNMA/PED no 96 CV00030/96) visando à consolidação do "Monumento Natural Vale dos Dinossauros". Inicialmente com base no Decreto no 14.833 desapropriou-se o sítio de Passagem das Pedras, com 40 hectares de área. Posteriormente foi concebido um canal de alívio da vazão do rio do Peixe, numa extensão de 621 metros que permitirá, sem alterar as características originais do rio do Peixe e ecossistemas associados, a proteção das pegadas contra a ação erosiva deste rio e represamento d'água sobre o sítio paleontológico.
    O projeto que implantou as obras neste sítio se deve única e exclusivamente ao Professor e Ambientalista Dr. Daniel Duarte Pereira, lotado no Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais/CCA/UFPB. Foi da sua lavra a concepção e elaboração do projeto que deu nova feição ao sitio Passagem das Pedras, em Sousa-PB.
    Quando o então prefeito de Sousa Dr. Mauro Abrantes soube do projeto, já estava em fase de liberação dos recursos.

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