Por Inaldo Leitão
24/10/2011Até as águas do Rio do Peixe sabem que os dinossauros sumiram há milhões de anos. Qualquer vivente sabe a importância científica que têm os dinossauros. E dez entre dez cientistas sabem que têm um desafio ainda não vencido: determinar a causa da extinção destes répteis e tranqüilizar os humanos sobre a (im)possibilidade da própria extinção. Pergunto: por que raios os dromedários homens públicos insistem em não dar a devida importância ao que é indisfarçavelmente importante?
O Vale dos Dinossauros de Sousa está desmoronando. E não é de hoje. Essa ruína vem avançando progressivamente ao longo do tempo. Não me lembro o ano exato – deve ter sido no final da década de 90 – mas João Estrela era prefeito quando ocorreu a única intervenção consistente no Vale. As passarelas, os diques de proteção e os ambientes de visitação foram erguidos naquela ocasião. Isso fora oriundo de um convênio celebrado entre as três esferas de Poder. Ainda houve quem se opusesse à participação da Prefeitura por ser Estrela nosso adversário na época. Com o poder que tinha, mandei liberar o convênio, ora.
Um pouco antes, houve outro momento em que os dinossauros ganharam certo impulso. Mariz e Marcondes eram Congressistas, eu era diretor do Campus VI e o Reitor da UFPB era Jackson Carvalho. Celebramos um convênio com o CNPq, então presidido pelo paraibano Linaldo Cavalcanti, e implantamos o laboratório de produção de réplicas. Isso depois de um encontro histórico no Campus, ocasião em que reuni as duas principais forças políticas sousenses e dali saiu a “Carta de Sousa”, lida por Mariz na tribuna da Câmara dos Deputados.
Faz muito tempo que Sousa e o mundo tomaram conhecimento da existência daquele que é um dos sítios paleontológicos mais importantes do planeta. Foi em 1920. O autor da façanha respondia pelo nome de Luciano Jaques de Moraes e era engenheiro de profissão. Quando soube que alguns nativos mencionavam “rastros de emas gigantes” na Passagem das Pedras, foi lá e os identificou como sendo de diversas espécies de dinossauros. Cinco décadas e meia depois (1975), o Padre Giuseppe Leonardi aportou na área e iniciou a descoberta (literalmente também) das pegadas. Elas estavam afogadas sob terras e pedras, como boa parte, ainda hoje.
Entre a descoberta de Luciano e a escavação do Padre Leonardi foram decorridos 50 anos. Entre a chegada do Padre e a intervenção da prefeitura lá se foram mais de 20 anos. E entre a construção do parque e os dias atuais, levamos quase 20 anos. Quanto tempo vamos levar para recuperar o combalido Vale? Ou para aprender a pelo menos conservar o acervo existente? Só Deus sabe. Mas é de se esperar que os intervalos temporais acima não se repitam. O danado é que em Sousa os dinossauros são como os ciganos: muito falados, quando conveniente, e pouco lembrados, quando necessário agir. Donde se conclui que há dois tipos de dinossauros: os extintos, soterrados no Vale do Abandono; e os vivos, detentores de mandatos e portadores da síndrome da indiferença.
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